Como tratar crianças e adolescentes com transtornos psiquiátricos e o papel da família no tratamento
Os tratamentos se dividem em psicoterapias e medicação, por isso, é necessário definir claramente qual o papel do medicamento no transtorno diagnosticado
O estudo dos transtornos psiquiátricos na infância e adolescência é um campo relativamente novo e vem crescendo nas últimas três décadas. Para a realização do diagnóstico desses transtornos, existem critérios claros que devem ser observados. Três grandes grupos diagnósticos são relevantes: transtornos emocionais (transtorno de ansiedade, fobias, depressão), transtorno de comportamento disruptivo (transtorno de conduta, hiperatividade, transtorno desafiador de oposição), transtorno global do desenvolvimento (atraso na fala, atraso na leitura, retardo mental, transtornos autísticos). É importante salientar que os problemas de saúde mental em crianças não se limitam a esses três grupos. Os tratamentos se dividem em psicoterapias e medicação, por isso, é necessário definir claramente qual o papel do medicamento no transtorno diagnosticado. Em certas situações, o objetivo da medicação será diminuir a intensidade ou a frequência de determinados sintomas; em outras será a melhora do autocontrole; e em outros casos, melhorar o comportamento funcional (por exemplo: indivíduos com hiperatividade associada ao déficit de atenção, como crianças ou adolescentes que não conseguem permanecer quietas na sala de aula, comprometendo seu aprendizado).
Previamente ao tratamento com psicofármacos é necessária a avaliação do clínico (preferencialmente psiquiatra da área da infância e da adolescência). Essa avaliação visa obter a história da criança/adolescente e compreender sua relação com a família. Além disso, a realização de exames complementares é muito importante antes da introdução do medicamento (por exemplo: hemograma, eletroencefalograma, atividade tireoide, enzimas hepáticas). Os medicamentos conhecidos como estabilizadores do humor são usados habitualmente em psiquiatria da infância e adolescência, da mesma forma que são usados em adultos, sendo sua maior indicação para o transtorno bipolar. Por outro lado, sintoma como descontrole de impulsos e agressividade, presentes em uma variedade de outros quadros, podem também ser controlados com medicamentos como lítio, carbamazepina e ácido valpróico. Os cuidados com estabilizadores do humor em crianças e adolescentes seguem os parâmetros de controle usados em adultos, devendo-se monitorar (controlar) os níveis sanguíneos desses medicamentos e realizar hemograma de controle para verificar o número de plaquetas e eventuais leucopenias (diminuição dos glóbulos brancos do sangue), uma vez que, o uso contínuo destes medicamentos pode induzir alterações sanguíneas.
A carbamazepina é frequentemente utilizada em crianças, e muitos estudos sugerem sua indicação para o tratamento do transtorno agressivo grave. Esse medicamento possui comprovadamente efeitos antimaníaco, anticonvulsivante e antidepressivo, além disso, parece ter efeitos na atividade motora, diminuindo a agressividade e aumentando a capacidade de concentração. Entretanto, seus efeitos colaterais mais comuns podem ser: tontura, sonolência, náusea, vômito e visão turva. Outros efeitos mais graves, porém raros, podem ocorrer, tais como supressão da medula óssea, toxicidade hepática e distúrbios cutâneos.
Contudo, a compreensão, a participação e o apoio da família são fundamentais para o tratamento, favorecendo a adesão ao mesmo, ou seja, o comprometimento do responsável pela criança/adolescente em acompanhá-lo às consultas, atendimentos e mesmo na administração dos medicamentos, conforme orientação terapêutica, são responsáveis pelo sucesso do tratamento.
Outros fatores que podem afetar a adesão da família e/ou paciente ao tratamento prescrito pelo médico, podem estar relacionados exclusivamente ao medicamento, como os efeitos colaterais, o tamanho do comprimido, seu cheiro e sabor, lembranças que o paciente possa ter de outras experiências anteriores da utilização do mesmo medicamento, ou mesmo as relacionadas ao tratamento atual. Todavia, a não adesão pode também estar relacionada à aquisição do medicamento, quer pela ausência do medicamento na unidade de saúde, quer pela ausência na farmácia comercial. A não-adesão ao tratamento é responsável por grandes frustrações na psiquiatria. A questão da adesão terapêutica tem sido discutida e estudada por vários profissionais de saúde por se tratar de um ponto fundamental para a resolubilidade de um tratamento, mas ainda são poucos os estudos na área da saúde mental na infância e adolescência realizados no Brasil.
Hebe Karina de Oliveira Stucchi é aluna do mestrado em Ciências Farmacêuticas da Universidade de Sorocaba (Uniso), orientanda da prof. dra. Marli Gerenutti. Projeto de pesquisa com apoio da Associação Pró-Reintegração Social da Criança - Capsi-Sorocaba e da Unim.
(fonte: Hebe Karina de Oliveira Stucchi, 28/04/2009 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 2 do caderno A)
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