Projeto de pesquisa brasileiro sobre transtorno bipolar recebe prêmio da UNESCO
Projeto de pesquisa brasileiro sobre transtorno bipolar recebe prêmio da UNESCO
Se um dos pais tem o transtorno, aumentam as chances de os filhos terem a doença. O transtorno bipolar é uma doença que afeta o humor, levando a pessoa a ter alternância de episódios de euforia e depressão. Nas famílias em que um dos parceiros tem a doença, há 10 vezes mais chance de um dos filhos apresentar o problema, enquanto que na população em geral, esse número é de 1%. Um projeto de pesquisa que visa estudar os genes envolvidos com a doença nas famílias de crianças com o transtorno acaba de ser premiado pelo Programa L’Oréal/Unesco Para Mulheres na Ciência.
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O projeto "Estudo genético do sistema dopaminérgico em famílias de crianças com o transtorno do humor bipolar" está sendo desenvolvido na Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) por uma equipe de pesquisadores ligados ao Laboratório de Neuroimagem em Psiquiatria (LIM-21) e do Programa de Transtorno Bipolar (PROMAN) do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas (HC), ambos da FMUSP.De acordo com a psiquiatra Sheila Cavalcante Caetano, que foi agraciada com o prêmio, os pesquisadores irão colher amostras de sangue dos pais e das mães de crianças com transtorno bipolar para realizar uma avaliação genética visando entender quais genes estão ligados ao aparecimento do transtorno nos filhos. "Usaremos o prêmio de 20 mil dólares para o desenvolvimento da pesquisa, que estava orçada exatamente neste valor", comenta a médica. "Acreditamos que agora no mês de outubro vamos iniciar as primeiras coletas", informa. Segundo ela, o projeto já foi aprovado pela Comissão de Ética da FMUSP.
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Sheila ressalta que o transtorno bipolar apresenta uma forte carga genética, mas não é uma doença determinista. "Isso significa que não é toda criança com pais onde um dos conjuges tem a doença que irá desenvolver o transtorno. O que ocorre é que há uma incidência de 10% em crianças com pais que têm a doença. Na população em geral, o índice é de 1%", destaca. Ela lembra que 40% dos filhos de pais acometidos pela doença terão algum tipo de doença psiquiátrica, como depressão e transtornos de ansiedade.DopaminaA psiquiatra explica que, no cérebro, a comunicação entre os neurônios acontece por meio de neurotransmissores, como a dopamina. "Nos casos de esquizofrenia, os pacientes têm alguns sintomas psicóticos, como alucinações e sensação de perseguição. Crianças com transtorno bipolar têm sintomas semelhantes a estes citados", conta a pesquisadora. "Em experimentos realizados com ratos, quando o nível de dopamina aumenta, esses animais também se mostram eufóricos e com comportamento semelhante ao verificado na fase de euforia do transtorno bipolar. Por isso acreditamos que o sistema dopaminérgico tem um papel fundamental na doença", explica.
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A coleta de material será feita nos pacientes atendidos no Lim-21 e no PROMAN, locais onde a psiquiatra atua profissionalmente. Será coletado o sangue dos pais, mães e das crianças, com idade entre 6 e18 anos. Os pais também responderão a questionários. A pesquisa faz parte do pós-doutoramento de Sheila, pela FMUSP, com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e tem a participação dos médicos Ana Kleinmam e Beny Lafer.A médica conta que as crianças com o transtorno, durante a fase depressiva da doença, podem ficar sem se alimentar, totalmente desmotivadas e com pensamentos suicidas, entre outros sintomas; já durante a fase da euforia, elas se transformam totalmente: ficam agitadas, não param de falar a ponto de atrapalharem as aulas.
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Sheila afirma que há algumas pesquisas americanas que apontam que a criança com transtorno bipolar vem de uma família desorganizada, onde não há atividades de lazer realizadas em conjunto. "Com o projeto poderemos descobrir se as famílias brasileiras são tão prejudicadas quanto as americanas", aponta.
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Os primeiros resultados do estudo deverão estar disponíveis pelo menos em dois anos. Uma das dificuldades, segundo a psiquiatra, é que a pesquisa deve ser feita com a criança com transtorno bipolar, o pai e a mãe. "O índice de divórcios é maior quando um dos cônjuges tem a doença. Então é possível que tenhamos algum tipo de dificuldade para unir as três partes envolvidas na pesquisa", diz.
(FONTE: Por Valéria Dias, da Agência USP São Paulo)
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