Psiquiatria no serviço PÚBLICO
No dia 07 de abril de 2009, a ABP protocolou uma representação no Ministério Público Federal. O documento alerta para o não cumprimento, por parte da Coordenadoria de Saúde Mental do Ministério da Saúde, da legislação relativa à área no Brasil. Enquanto prazos e metas estipulados pelo próprio Ministério não são respeitados, o atendimento a pacientes com doenças mentais torna-se mais difícil.
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Nesta reportagem especial da revista "Psiquiatria Hoje", pegarei partes onde conta a história e os rumos da política de (des)assistência em saúde mental no Brasil.
.Nesta reportagem especial da revista "Psiquiatria Hoje", pegarei partes onde conta a história e os rumos da política de (des)assistência em saúde mental no Brasil.
No final dos anos 80, o Brasil passou pelo processo de redemocratização, que culminou com a constituição de 1988 e com a criação do Sistema Único de Saúde. Mais alguns anos de passaram e no dia 6 de abril de 2001 foi aprovada a Lei Federal n° 10.216, que estabelece ênfase no tratamento extra-hospitalar, de base comunitária, para os pacientes com doença mental. Para quem cobrou essas mudanças ao longo de anos, o texto foi uma conquista importante
.Mas a realidade da assistência pública em saúde mental continuou ruim. Em junho do ano seguinte, a portaria n° 1.101 definiu o índice de 0,45 leitos psiquiátricos por cada mil habitantes como o ideal para atender a demanda por internação psiquiátrica no Brasil. Quase seis anos depois, o Ministério da Saúde não conseguiu cumprir a meta que estipulou. O país tem hoje 0,23 leitos para cada mil habitantes. è um índice pior do que o encontrado em países como Israel (0,88), Argentina (0,68) e Uruguai (0,54), que têm números superiores ao referencial usado pela Coordenação de Sáude Mental brasileira.
.Colaboração
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Segundo o atual presidente da ABP, durante todo o período assinalado a instituição buscou aproximar-se dos responsáveis para cobrar as providências necessárias. "O posicionamento de nossa Associação sempre foi de acompanhar criticamente o processo e colaborar com a construção de políticas baseadas no que há de melhor em matéria de conhecimento científico. Contudo, temos percebido que as decisões do Ministério são majoritariamente ideológicas", comentou João Alberto Carvalho.
.Neste sentido, uma das iniciativas mais recentes foi a elaboração das "Diretrizes para um Modelo de Assistência Integral em Saúde Mental no Brasil", em 2006. O documento faz uma análise da situação atual e apresenta sugestões para construção de um sistema de atendimento eficiente e baseado em evidências. No dia 22 de agosto de 2007, o material foi entregue ao ministro José Gomes Temporão.
.O presidente da ABP à época, Josimar França, reforçou o caráter colaborativo da iniciativa. "Este documento foi elaborado por médicos associados da ABP, representa o posicionamento oficial dos psiquiatras brasileiros em relação à atual política de Saúde Mental e trata-se da prova da nossa disposição em colaborar para revitalizar a assistência médica no país", declarou.
.Descaso
.Ao final da reunião, o ministro da Saúde se comprometeu a enviar o documento à sua equipe técnica e realizar um novo encontro. Em março do ano seguinte, a ABP ainda não havia sido procurada para continuar os trabalhos. Por isso, solicitou a realização de uma nova audiência, que aconteceu no dia 25 do mesmo mês.
.No encontro, foram definidos três focos de ação para o ano de 2008: residência médica, atenção básica em saúde mental e leitos psiquiátricos em hospital geral. No primeiro tema, um ano após a reunião, a única ação proposta pelo Ministério foi a participação de um representante da psiquiatria em um encontro da Subcomissão de Estudo e Avaliação das Necessidades de Médicos Especialistas.
.Também não houve avanços no segundo item, que ficou a cargo da Coordenação de saúde mental. Além disso, o ministro se comprometeu a realizar nova reunião com os psiquiatras dentro de 30 dias. O encontro nunca foi realizado. Mas para o presidente da ABP, a situação é mais grave no último tema. "Na audiência, ficou acertada a criação de um grupo de trabalho sobre leitos e unidades psiquiátricas em hospital geral. Além da demora em oficializar sua criação, o Ministério não cumpriu os prazos que estipulou para produção de relatórios e conclusões", comentou.
.No dia 18 de abril de 2008, a ABP realizou uma reunião com especialistas em políticas de saúde mental, para definir propostas e prioridades que pudessem orientar o trabalho do grupo que deveria ser criado pelo Ministério. Nesse encontro, verificou-se a necessidade de estimular a presença de psiquiatras no Sistema Único de Saúde, o que foi feito pela Associação durante o seu congresso anual. Como era de se esperar, a maioria dos médicos relatou preferir trabalhar no setor privado ou em instituições de ensino.
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No dia 11 de setembro de 2008, seis meses após a reunião, foi publicada a portaria n° 1899, que criaria o Grupo de Trabalho sobre Saúde Mental em Hospitais Gerais. No texto, foi estipulado o prazo de 90 dias para a apresentação do relatório final com as conclusões do grupo. A coordenação das atividades seria da área técnica de saúde Mental do Departamento de Ações Programáticas Estratégicas do MS. Já se passaram seis meses. Nenhum relatório foi produzido e foi realizada somente uma reunião, no dia 9 de dezembro de 2008. Segundo a assessoria de comunicação do Ministério, a previsão para um próximo encontro é para o Mês de maio. O representante da ABP no grupo de trabalho é Marco Antonio Brasil, membro do Conselho Consultivo. Além dele, os psiquiatras Rogério Wolf Aguiar e Neury Botega foram convocados a participar da reunião realizada em dezembro, representando o serviço de interconsulta do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e o Grupo de Trabalho da Estratégia Nacional de Prevenção do Suicídio, respectivamente.
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Na única reunião do grupo de trabalho, os participantes foram divididos em subgrupos, que ficaram com a responsabilidade de produzir estudos específicos. Aguiar comentou a forma como o processo foi realizado. "Eu, marco Antonio e Neury estudamos como implantar esse tipo de serviço. Inicialmente, a previsão de um novo encontro era para o início de março. Depois adiaram para o final de março e agora parece que será somente em maio. O nosso relatório está pronto, esperando a próxima reunião".
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Em quase três décadas, muita coisa mudou. Mas alguns problemas continuam atuais.
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Will - http://tabrasil.wordpress.com